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Ela, a bailarina. Era ela a primeira bailarina de sua vida. Mas ela desejava mais. Ela queria saber afastar toda a névoa de encanto e deslumbramento que encobre este falso degrau, que se repete e se repete, e só sabe se repetir e fazê-la tropeçar. Este encantamento que a impede de entender o que realmente está por trás de todos os calos, todas as quedas e todos os desapontamentos. Queria poder conseguir deixar o amor um pouco de lado. Queria saber se controlar, queria conseguir se superar sempre que quisesse, só pela força de vontade. Queria que dedicação, garra e paixão fossem o suficiente. Queria que fossem flores os dias que se seguem e que gira, gira e gira, tentando não cair. Queria perceber mais facilmente que em cada tentativa fracassada está um passo mais perto de conseguir. Queria que o cetim das suas sapatilhas fosse sempre rosa-algodão-doce, que os rasgos da meia-calça não existissem, que as manchas que sujam estas sapatilhas, adquiridas no linóleo, desaparecessem. Mas rasgos, manchas, são o esforço disfarçado. Queria apenas um lugar para morar, uma sala para dançar e uma música para se libertar. E mesmo que não quisesse, às vezes, a força da gravidade também a atingia. Mas isso não importa, pois flutuava sentada, deitada, sangrando, cansada. Onde quer que estivesse, como estivesse, flutuava.