A névoa rasteja pelos jardins ressecados, como se as sombras do passado ainda respirassem ali. O som do portão de ferro forjado — mesmo quando trancado — parece ecoar por conta própria, como se pressentisse presenças. O brasão Vonaric, rachado ao centro, observa com olhos mudos quem ousa se aproximar. À frente, os sete degraus da escadaria se estendem até o pórtico, guardado por colunas enegrecidas e símbolos apagados pelo tempo e pelo esquecimento. A mansão ergue-se acima como um túmulo de lembranças, grandiosa em sua ruína.
Ao tocar os pés na pedra do primeiro degrau, há uma pausa — como se o próprio Solar estivesse em julgamento. Não há campainha, nem batente. A entrada não se abre com força, nem com súplica. Ali, regras antigas ainda vivem. Aquele que não for convidado, não entra. Não importa se usa magia, sangue ou ferro: a própria estrutura rejeita a intromissão. As portas não cedem, os degraus se recusam. Há histórias de visitantes que tentaram forçar passagem — e desapareceram entre as heras negras e o tempo torcido ao redor da propriedade. Mas, aos que são esperados... a mansão percebe. Um leve brilho dourado percorre as rachaduras do brasão; o portão range suavemente; os degraus não resistem. E, então, as portas se abrem — não com som, mas com decisão. Como se o Solar Myrthalis estivesse acordando, brevemente, para receber um dos seus.