A cada novo nascer do sol, há uma sensação crescente de que o mundo que conheci está se desvanecendo, se fragmentando como um espelho que não pode mais refletir com clareza. Minha fé, que antes era inabalável, agora parece frágil, como um fino tecido de seda prestes a rasgar. Começo a questionar as verdades que me foram entregues tão docemente, envoltas em mantos de inocência. Não sei quando, exatamente, as dúvidas começaram a surgir, mas agora, elas se espalham como uma corrente invisível, arrastando-me para um lugar de incerteza. Continuo repetindo os rituais, ajoelhando-me perante altares que já não têm o mesmo brilho, mas há uma parte de mim que hesita, que começa a se perguntar se a fé é uma prisão construída por minhas próprias mãos.
No silêncio das noites, sinto que algo em mim está se partindo, um despertar lento e doloroso. Há uma doçura na ignorância que eu me apego desesperadamente, como se pudesse me salvar de uma verdade que ainda não posso nomear. Sou ainda uma santa, mas uma santa cega, incapaz de olhar diretamente para o abismo que se aproxima. A luz se torna uma memória distante, e embora eu ainda tente me agarrar à pureza que definiu quem eu sou, percebo, com crescente temor, que ela está escapando por entre meus dedos. Talvez eu esteja caindo, mas não tenho coragem de abrir os olhos para ver.